Se existe algo que deve de forma muito precisa marcar nossas vidas e nosso senso enquanto igreja cristã é o fato de que nós não possuímos suficiência para crescermos sozinhos, ou seja, não podemos criar ou fabricar o crescimento da igreja por nós mesmos, pois Deus é quem edifica sua igreja:
“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Cor 3.6-7)
Nossa tarefa é fazer funcionar, por assim dizer, os “mecanismos automáticos de crescimento” deixados por Deus, a fim de que, todos os impedimentos humanos sejam retirados para que ocorra o desenvolvimento de todo o potencial dado pelo próprio Deus. Isso soa muito estranho, mas, basta nos lembrarmos de algumas premissas bíblicas e isso certamente ficará mais nítido em nossa compreensão:
Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto. (João 12.24).
Ele prosseguiu dizendo: "O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. Noite e dia, quer ele durma quer se levante, a semente germina e cresce, embora ele não saiba como. A terra por si própria produz o grão: primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga. Logo que o grão fica maduro, o homem lhe passa a foice, porque chegou a colheita". (Marcos 4.26-29)
O crescimento de uma igreja é o resultado natural de uma igreja saudável. Nenhuma igreja cresce porque simplesmente sua liderança decidiu crescer – quando se trata de igreja, não existe crescimento “pelas próprias forças”.
O que significaria, no entanto, crescimento de igreja pelas próprias forças? Christian Schwarz – Pastor e Missiólogo alemão – introduz sua tese com a seguinte ilustração que pode ser observada na imagem abaixo: uma carroça com quatro rodas quadradas, transportando uma enorme quantidade de belas e eficientes rodas redondas, empurrada e puxada por duas pessoas que, sem dúvida, apresentam muito empenho, mas que descobrem que o empreendimento é cansativo, lento e frustrante.
Esse quadro, que ao mesmo tempo, apresenta a uma imagem cômica e trágica, é mais do que uma simples caricatura. É uma descrição praticamente profética da condição de muitas áreas da igreja cristã. É evidente, que a igreja ilustrada pela carroça está progredindo, mas, muito devagar. Será que é assim que deve ser? – Se fosse possível dialogarmos com protagonistas da ilustração o porquê de tal atitude, quais seriam suas respostas? - Provavelmente, receberíamos a seguinte resposta: “É que o vento está soprando muito forte contra nós”; ou: “O morro que temos de subir é muito íngreme.”
Em muitos casos, estas respostas estão corretas. Muitas vezes, o vento está realmente soprando forte contra nós e também o caminho que muitas vezes a igreja precisa trilhar e íngreme. Mas a ilustração também nos ajuda a entender que esse não é o problema real. A dificuldade continuaria a existir, mesmo que as condições externas fossem mais favoráveis.
Com essa comparação, descobrimos algo essencial: Deus colocou à nossa disposição todos os meios de que precisamos para o desenvolvimento da igreja. O problema consiste em não usarmos os meios que Deus nos dá. Em vez de usarmos as ferramentas que Deus nos deu, tentamos empurrar e puxar o carro “pelas próprias forças”. Isso não significa que os dois protagonistas do quadro não sejam pessoas espirituais. Também não significa que o objetivo – de colocar a igreja em movimento – esteja errado. Significa simplesmente que o método utilizado para alcançarem esse objetivo não é satisfatório. Figuradamente, encontramos uma grande abundância de rodas redondas, acontece que algumas fazem uso delas, outras não.
“Usando categorias da nossa ilustração: em vez de empurrar a carroça (=igreja), importa descarregar as rodas que estão sobre a carroça e fixá-las no lugar apropriado – e depois fazer a experiência gratificante de que é o vento do Espírito Santo quem coloca a carroça (ao que parece) “automaticamente” em movimento”. [1]
Objetivamente, podemos afirmar assim que, o que realmente importa é qualidade da igreja. Na expressão do Evangelho de Mateus 7.17, arvore boa produz bom fruto: a qualidade é a raiz, e a quantidade é o fruto. Pensando na qualidade, perceberemos que:
...uma igreja em que a liderança se devotou com todas as forças ao crescimento da igreja, em que quase cada cristão usa seus dons espirituais na edificação a igreja, em que a grande maioria dos membros da igreja vive sua fé com autoridade e entusiasmo contagiante, em que as estruturas da igreja são avaliadas apenas pelo critério da utilidade para o desenvolvimento da igreja, e que a participação no culto é o ponto culminante da semana para a maioria dos envolvidos, em que se pode experimentar nos grupos familiares a força amorosa e terapêutica da comunhão cristã, em que quase todos os cristãos contribuem de acordo com os dons para que a tarefa missionária seja realizada, em que o amor de Cristo permeia quase todas as formas de atuação da igreja. Alguém consegue imaginar uma igreja assim estagnando ou até diminuindo?”. [2].
Pensemos nisso, pois este certamente é o grande desafio para nossa caminhada ministerial, enquanto discípulos e discípulas que anunciam o Amor e o Evangelho de Jesus Cristo nos caminhos da missão.
[1] Christian A. Schwarz. O ABC do Desenvolvimento Natural da Igreja. p. 28.
[2] Christian A. Schwarz. O ABC do Desenvolvimento Natural da Igreja. p. 31.