quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Discipulado e Metodismo: Discípulos e Discípulas nos Caminhos da Missão....

      
   Discipulado e Missão têm estado entre os temas mais discutidos e debatidos em nossa Igreja Metodista nos últimos anos. Por isso, na tentativa de contribuir com este debate, apresento o texto a seguir, tendo como base o Plano Nacional Missionário 2012-2016 aprovado no último Concílio Geral da Igreja Metodista, bem como, as percepções teológico-históricas e práticas da vivência pastoral do Discipulado numa Igreja Ministerial.

            A terceira ênfase de nosso PNM (Plano Nacional Missionário) traz o seguinte texto:

            “Promover o discipulado na perspectiva da salvação, santificação e serviço. Nos últimos anos, a Igreja Metodista tem dado atenção ao Programa de Discipulado. “O Discipulado, à luz do próprio Cristo, fundamenta a comunhão, a convivência, a comunicação e a formação do caráter das pessoas relacionadas com o Senhor e com sua comunidade”.
         O discipulado precisa ser compreendido como um modo de ser igreja. Assim sendo, não é um programa para atender o “modismo eclesiástico”. Ao contrário, mergulhando nos estudos do Evangelho, vamos perceber que o discipulado é uma condição para que as pessoas possam seguir o caminho aberto por Jesus Cristo. Ser discípulo e discípula de Jesus é uma exigência. No início do seu ministério terreno, Ele formou um grupo de discípulos e, igualmente, preparou essas pessoas (formando uma comunidade), para viver a radicalidade do projeto do Reino de Deus, produzindo frutos de fé, misericórdia, compaixão, justiça e amor, à luz do desafio do mandamento do Senhor. Por isso, o Evangelho de Jesus Cristo, narrado por Mateus, Marcos, Lucas e João, é a base do projeto de discipulado, ou seja, viver como Jesus viveu, perdoar como Jesus perdoou, sentir como Jesus sentiu, intervir. No caminho do discipulado, Ele confere identidade a cada discipulado ou discípula. Do mesmo modo, transmite as instruções acerca dos desafios e das oportunidades para segui-Lo com alegria e singeleza de coração.
          Também o movimento wesleyano impõe uma prática do discipulado focada na salvação, na santificação e no serviço em nossa caminhada cristã. “As classes, como recriação da comunidade de fé, foram o segredo da implantação do movimento metodista”. As classes produziram uma Igreja inserida em sua realidade utilizando uma estrutura de testemunho, mútuo amparo e instrução. Elas tornaram possível o crescimento, não apenas em termos numéricos, mas em qualidade e estilo de vida pessoal e comunitário.
            Wesley dizia não conhecer religião que não fosse social. Nessa direção, três movimentos estão sendo conduzidos no discipulado metodista: a) Estilo de vida em que Cristo é o modelo, ou seja, “caminho, verdade e vida”, à luz dos valores da fé cristã e na perspectiva do Reino de Deus; b) Método de pastoreio no qual o pastor e a pastora dedicam maior atenção aos grupos pequenos e promovem dessa forma, relacionamentos mais fraternos e pastoreio mútuo; c) Estratégia para o cumprimento da missão visando a Evangelização e o Crescimento. Nos termos do ensino de Jesus, enviando os seus discípulos (Mateus 10), o discipulado é integrado à Missão da Igreja, mantendo-se sempre a perspectiva da salvação, santificação e serviço"[1]

            A partir deste relato, o que podemos entender por Discipulado? – Na realidade, antes, iremos primeiro identificar o que não é discipulado, para depois, defini-lo com mais precisão.

1.      Discipulado não é uma classe de aula cheia de alunos com um professor à frente. Podemos começar assim em grandes igrejas, com o objetivo de ir passando uma visão, para formar devagar alguns discipuladores, mas, uma reunião assim não é ainda um discipulado;
2.      Discipulado não é um relacionamento de aconselhamento esporádico, no qual uma pessoa, quando precisa, quando tem alguma necessidade ou problema, procura alguém mais experiente para receber conselho ou uma nova direção sobre determinadas circunstâncias;
3.      Outra coisa que não é discipulado: duas ou mais pessoas reunidas, onde uma delas é mais experiente que as outras com o propósito de lerem a Bíblia ou fazerem algum estudo.

            Porque o cerne do discipulado não é baseado em nada disso que foi descrito. Podemos dizer então que: discipulado são vínculos íntimos, sólidos, fortes entre um discipulador e uma outra ou outras pessoas cujos corações são ensináveis. O discípulo deve ser aberto, maleável, tratável e ter um desejo forte de ser formado em Deus. O discipulador será alguém cuja vida cristã global seja totalmente aprovada e previamente discipulado por outra pessoa. Estas pessoas terão como objetivo uma posição mais elevada em Deus, de aprendizagem da Palavra e da vida cristã para os discipulandos. Deve haver entre o discipulador e discípulos, além dos vínculos, ligaduras no espírito, alianças, unidade e concordância, compromisso e submissão de andar na luz, de se deixarem tratar. Esse comprometimento é que define se o relacionamento é ou não discipulado.

Quatro essenciais sobre o Discipulado:

1)    ESTILO DE VIDA:

Entrar no padrão do discipulado é entrar no estilo de vida de Jesus. Somos convidados pelo próprio Jesus, através da Palavra, a viver uma vida de despojamento, de negação de nós mesmos a favor do Reino de Deus, tomando diariamente a nossa cruz e seguindo as pegadas no Mestre. Nesse caso, Jesus é o nosso modelo. Isso é o centro do Evangelho, porque, no viver cristão, o caminho do crescimento é para baixo:

Aquele que se exaltar será humilhado, mas aquele que se humilhar será exaltado”; “Porque os últimos serão primeiros”; “Humilhai-vos, portanto sob a poderosa mão de Deus, para que Ele em tempo oportuno vos exalte”. (Mt 23.12; 19.30; 1 Pe 5.6).

Discipulado, então, é viver uma vida de perdas para que o reino de Deus tenha os ganhos. Esta é a única forma que Deus tem para produzir em nós o quebrantamento necessário para uma vida cheia de unção do Espírito e uma real dependência de Deus.


2)    MÉTODO DE PASTOREIO:

            Esta é a segunda característica do processo de Discipulado:
Ele pode ser usado como método de pastoreio, no qual o pastor e a pastora dedicam maior atenção aos grupos pequenos e promovem, desta forma, relacionamentos mais fraternos e o pastoreio mútuo entre os membros da igreja. Com Dons e Ministérios enfatizamos uma Igreja de serviço (diakonia), na qual todos os membros participam do cumprimento da missão. Com o Discipulado enfatizamos uma Igreja de relacionamentos (koinonia), fundamental para que a integração entre os diversos ministérios seja pautada no amor, no perdão, no apoio mútuo, na solidariedade, na valorização e reconhecimento do dom e ministério do outro[2].


3)    ESTRATÉGIA PARA O CUMPRIMENTO DA MISSÃO:

            O Discipulado, pensado a partir de uma ampla visão de aperfeiçoamento da Igreja Local também pode ser considerado como uma das eficientes estratégias para o recrutamento, envolvimento, treinamento e envio dos membros da comunidade de fé para a realização da missão. Sob a perspectiva do ministério de Jesus podemos afirmar que o Discipulado objetivamente pressupõe o envio missionário dos/as discípulos/as.


4)    ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DE LÍDERES:

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”. (Mt 28.19-20)
            De acordo como Bispo Josué Adam Lazier:

O tema central da Grande Comissão é fazer discípulos. Fazer é o verbo central desta frase. Os demais, ide, batizar e ensinar, são particípios no original grego e qualificam o verbo central. Portanto o ide, o batizando e o ensinando não são ordens separadas de Jesus e fazem parte integral da Grande Comissão. Aparentemente, não há diferença alguma da compreensão habitual que faz do ide o imperativo da frase, mas esta compreensão fraciona a Grande Comissão. O acento do texto está no Fazer discípulos e não no ide. O ide é parte do fazer discípulos. Fazer discípulos inclui todas as dimensões da vida do ser humano e da fé decorrentes da experiência com o conhecimento de Deus[3].

 “Como ação o discipulado é uma relação pessoal e comprometida onde um discípulo mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus Cristo a aproximarem-se mais Dele e assim frutificarem” [4]

Todos aqueles que desejam fazer discípulos precisam estar dispostos a investir a sua vida na formação de outros, pois o discipulado só acontece através de relacionamentos pessoais e comprometidos, isso quer dizer que é necessário tempo junto para poder discipular.
O discipulado através dos relacionamentos visa uma transferência de vida, crescimento cristão, visa à prática do que tem sido ensinado, e o desenvolvimento da pessoa em cumprir a vontade de Deus como verdadeiro discípulo/a de Jesus.

As Células / Grupos Pequenos como Estratégia de Desenvolvimento de Discípulos/as


Desde o Antigo Testamento a Bíblia nos fornece informações concretas sobre o Discipulado. A proposta de Jetro (Êxodo 18.13-27) para o seu genro Moisés é muito interessante e nos ensina várias lições como: Jetro dá sua contribuição a Missão de Deus se envolvendo efetivamente, ensinando, instruindo Moisés.
Claramente, a grande lição que podemos absorver, entre muitas é o fato de que nós não podemos ficar alheios, à margem do desafio do Senhor, na perspectiva de expectadores: Nosso Deus chama a todos para participar da construção de seu Reino sobre a face da terra.
Mesmo Moisés tendo experimentado um grande mover de Deus em toda a ação da saída do Egito, ainda assim, manifestou humildade ao receber e a praticar o conselho dado por seu sogro. Com isso, podemos afirmar que o crescimento quantitativo e qualitativo de nosso povo passa efetivamente pela organização em grupos de liderança e formação líderes no padrão de Deus e não dos homens. (cf. Êxodo 18.21)
O Discipulado é um chamado para caminhar junto e servir (2 Reis 2.1-18, 3.11). A missão não é realizada de forma individualista, ou seja, um líder isoladamente não pode “carregar” a obra de Deus, pois esta atitude não é o padrão bíblico. Eliseu é um autêntico discípulo de Elias. Ele segue, caminha e serve aquele que o ensinou o amor de Deus.
O senhor Jesus formou um grupo de discipulado, conforme nos relata os evangelhos. Mas, o incontestável embasamento do discipulado na Bíblia está na Grande Comissão. Jesus antes de ir para junto do Pai deixou uma ordem bem para clara para os seus discípulos:

“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até á consumação do século”. (Mateus 28.18-20)

O que se faz com a ordem de Jesus? – Enquanto obedecemos, acatamos, pois, nós cristãos sem titubear cremos que a ordem do nosso mestre é importante, não é uma sugestão, e nem algo opcional. No Novo Testamento são relatos vários exemplos das casas em que aconteciam os encontros de cristãos: De casa em casa (Atos 2.46); Casa da mãe de Marcos em Jerusalém (Atos 12.12); Casa de Áquila e Priscila (Romanos 16.3-5, Atos 18.3); Casa de Lídia em Filipos (Atos 16.40); Casa de Jasom em Tessalônica (Atos 17.5); Casa de Tício, o justo (Atos 18.7); Casa de Filipe em Cesaréia (Atos 21.8); Casa de Estéfanes (1 Cor 1.16, 16.15); Casa de Ninfa (Col 4.15)
“Vivemos numa sociedade pós-moderna, onde o sentido humano tem sido focalizado demasiadamente nas realizações e não nos relacionamentos (no ter, no consumismo, na fama, nas obras faraônicas, nos aplausos e no dinheiro). O cristianismo é uma proposta divina de comunhão, de alegria, de vida, de cura, de fé e de relacionamentos. Você decide o que fazer com a ordem de Jesus que está na Bíblia”.[5]


Ao iniciar uma análise histórica sobre o Discipulado no Metodismo, vamos perceber que atualmente, existe uma grande distancia entre o movimento de Wesley e a Igreja organizada tanto na América do Norte, Inglaterra e, na América do Sul.
De acordo com Philip Wingeier-Rayo – Professor de Missões na Universidade Pfeiffer e missionário da Junta de Missões Globais da Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos – a causa deste lapso se deve ao distanciamento inicial da clareza da missão metodista e do mundo para o qual fora enviado. Ele afirma que o distanciamento da população marginalizada e o crescente clericalismo e a concentração de poder na figura do pastor/a contribuíram decisivamente para a perda desta metodologia que hoje, tem sido amplamente utilizada por outros movimentos, enquanto que os metodistas, apesar de suas raízes wesleyanas deixaram a vivencia do trabalho em grupos pequenos[6].
O Prof. Duncan Alexander Reily nesta mesma direção, afirma que a herança missionária e eclesiológica do movimento metodista em Wesley se deve a interdependência de quatro elementos: “a missão, o lugar para onde a missão se desenvolve, os instrumentos e métodos usados para tanto, e o/as agentes da missão”[7].
Reily defende a tese do fortalecimento do movimento metodista após a experiência de Aldersgate – 24 de maio de 1738 – mas, consolidada a partir da Primeira Conferencia realizada entre os dias 25 à 30 de Junho de 1744 na Fundação em Londres para tratar das questões da doutrina e ministério. Wesley tinha em mente o fato de que o metodismo surgira não apenas com um simples e arbitrário empreendimento humano, e, nesta Conferência, ao lado de outros nove participantes discutiram de maneira muito intensa o movimento e a obra confiada a estes pelo próprio Deus:

“E como foi que estes dez homens definiram a missão? Antes de mais nada, convém mencionar que essa primeira Conferência fornecia um modelo para as que se seguiram. A ata da Conferência foi redigida em forma de perguntas e respostas. A redação da pergunta é reveladora de uma profunda pressuposição: ‘O que podemos crer, racionalmente, tem sido o propósito de Deus em levantar o povo chamado Metodista?’ Essa pergunta carrega nos eu bojo uma profunda convicção de que o metodismo não surgira por acaso. Deus, na sua providencia e para os propósitos, o havia levantado. E quais seriam esses propósitos? Responderam: ‘Para reformar a nação e, particularmente, a igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre a terra’. Dez homens, pobres e sem o apoio de qualquer força política ou militar, dão essa resposta audaciosa. O mesmo Deus que os havia levantado realizaria a obra!”[8].
            Motivado por George Whitefield em 02 de abril de 1739 Wesley pregou pela primeira vez ao ar livre na região Kingswood dando início à uma revolução espiritual que transformou a sociedade britânica durante as décadas seguintes.

“Whiefield tinha iniciado e popularizado o evangelismo de massa para o povo sem igreja, mas Wesley organizou o movimento e pôs sob administração sistemática. Whitefield esperava que o povo “ávido” se firmasse por iniciativa própria, mas Wesley não deixou nada ao acaso. Ele se empenhou e se certificou de que os que estavam levando a sério essa vida nova fossem canalizados para pequenos grupos, para crescimento no discipulado. Esses pequenos encontros eram chamados de “classes”, e formaram a base da reforma metodista durante o século seguinte. A “reunião de classe” acabou se tornando o meio principal de levar milhões dentre as pessoas mais desalentadas da Inglaterra à disciplina libertadora da fé cristã” [9].
   John Wesley adotou a prática de organizar as sociedades metodistas da mesma forma que a Igreja da Inglaterra havia desenvolvido a partir da experiência pietista alemã de grupos pequenos. Os contatos de Wesley com os morávios, durante seu tempo como missionário na América e, mais tarde, na Inglaterra através de sua forte amizade com o líder morávio Peter Böhler, além de sua visita à comunidade Moravia de Herrnhurt, serviram de inspiração para a adoção desse modelo de grupos no movimento metodista. John Wesley e Peter Böhler fundaram a Sociedade de Fetter Lane – Londres, em 1º de maio de 1738. [10]
Em 15 de fevereiro de 1742, ele se reuniu com líderes da Sociedade de Bristol para estudar como pagar as dívidas do Salão Novo. Um dos líderes, o Capitão Foy propôs dividir a sociedade em grupos de doze, com um líder cada, o qual seria responsável pela arrecadação. Toda a sociedade foi então dividida em classes, subdivisões por vizinhança de cerca de doze pessoas, cada classe tendo um líder determinado pelo próprio Wesley: aqueles em quem posso confiar. A importância desses grupos logo ultrapassou seu plano original. Assim que os líderes começaram suas visitas semanais, logo descobriram problemas entre os membros: brigas domésticas, bebedeiras e outros tipos de comportamento fora da santidade. Wesley viu a oportunidade pastoral pela estrutura prática das classes: os líderes das classes se tornaram guias espirituais de seu grupo. Wesley se reunia com os líderes semanalmente. A Sociedade de Londres tinha nessa época mais de mil membros, mas esse método ajudou Wesley a vencer as dificuldades de conhecer cada pessoa e estender o toque pessoal de sua supervisão pastoral (e disciplina). Por razões as mais variadas, tornou-se mais vantajoso reunir os membros das classes em um só lugar do que visitá-los em suas próprias casas. Desse modo, como Wesley disse: uma inquirição mais completa foi feita sobre o comportamento de cada pessoa... conselhos ou reprovações eram dados sempre que exigidos, as brigas foram apaziguadas, desentendimentos foram removidos; e depois de uma hora ou duas passadas neste serviço de amor, eles concluíam com preces e ações de graças (Societies, 262). As classes continham todas as pessoas da sociedade, não apenas aquelas que voluntariamente se agrupavam. Permitiam o exercício da disciplina entre toda a sociedade.[11]
“A revolução wesleyana é uma ilustração de que a transformação espiritual duradoura não resulta da pregação dinâmica ou uma doutrina correta. Ela acontece pro meio do discipulado sólido, segundo a Grande Comissão de Cristo “ir a todo o mundo e fazer discípulos”. A reunião de classe que Wesley desenvolveu foi a ferramenta pela qual pregação e doutrina foram combinadas com vistas à renovação espiritual. Ela conduziu a revolução”.[12]
Helmut Renders, professor da Faculdade de Teologia em São Bernardo do Campo – UMESP – em um trabalho publicado em 2002, construiu um interessante quadro comparativo do movimento wesleyano, destacando três elementos essenciais do metodismo daquele período: a sociedade, as classes e os bands:

“Uma sociedade representava o total dos/as membros metodistas num certo local. O equivalente, hoje, seria uma igreja local, comunidade, ou um ponto de pregação. Todas as pessoas que mostrassem interesse em filiar-se a uma sociedade metodista tinham que entrar numa classe. A dinâmica desses grupos era marcada pela troca de experiências a partir de perguntas frequentemente repetidas, desde 1744, inclusive nas Regras Gerais.
Os/as integrantes das classes tinham experiências espirituais diferentes. Nelas encontravam-se pessoas na busca da fé e pessoas com a certeza da fé. A partir das perguntas, todas elas trocavam as suas experiências pessoais, inclusive o(a) líder da classe. Temos então aqui um processo mútuo, em que um(a) líder cuidava, em primeiro lugar,  do processo mútuo. Além disso, compartilhava também a sua experiência pessoal, com os seus altos e baixos. Assim, falavam todos/as das suas derrotas como das suas vitórias, na busca de crescimento pessoal. A organização das classes seguiu uma lógica geográfica para atender aos problemas de locomoção.
Os bands foram constituídas meramente por pessoas que tinham a certeza da fé. Importante, porém, é que a dinâmica nos grupos não mudou. Houve novamente uma lista de perguntas que serviu para o auto-exame e o exame mútuo. A participação era voluntária, mas, de um integrante se esperava uma radical abertura para a avaliação mútua.  No tempo de Wesley havia mais uma especificidade, por meio dos bands seletos (selected bands). Nelas se encontravam pessoas em busca da perfeição cristã. [13]

Sintetizando todo o referencial acima mencionado, podemos resumidamente definir que:

1)      Sociedades: Centenas ou milhares de pessoas. As Sociedades foram o meio de disciplina e edificação para as multidões despertadas pela pregação ao ar livre e manifestando o desejo de “fugir da era vindoura” (cf. Lucas 3.7). Para permanecer deviam exibir o outro lado do arrependimento, ou seja, os frutos. (cf. Lucas 3.9-11).

2)      Classes: Aproximadamente 12 pessoas sob a orientação de um líder para oração, estudo, confissão e busca de fé. Ideia originada do Capitão Foy.

3)      Bands: Aproximadamente 06 pessoas e um líder que professavam a experiência da fé e concordavam com a prática de franqueza extrema, no falar e no ouvir, buscando a perfeição cristã.

A verdadeira essência da liderança do movimento encontrava-se nos líderes. Eles forneciam o atendimento pessoal e pastoral e o cuidado para com os membros individualmente. Qualquer membro ausente poderia esperar uma visita do líder da classe durante a semana. Desse 
modo, ele poderia oferecer ajuda aos doentes e incapacitados, encorajar os desanimados e reprovar os afastamentos. Os líderes das classes desenvolviam uma variedade de atividades pastorais, e por meio de sua liderança semanal nas orações, nos cânticos e nos testemunhos era possível descobrir se possuíam os dons e o chamado para servir como pastores leigos nas próprias sociedades ou em outras. [14]
“Nas sociedades, intensidade da liderança leiga era impressionante. Havia bands de mulheres e de homens; cada célula era composta por, aproximadamente, seis pessoas, orientada por um/a guia; as classes idem. Grande parte do atendimento pastoral e caritativa realizado na sociedade era feito nessas “pequenas igrejas”. Foi ali, também que muitos pregadores e pregadoras receberam a sua vocação e treinamento prático. Nas escolas, orfanatos, atividades de assistência, predominavam os ministérios de mulheres, de homens leigos/as” [15].

John Wesley aprendeu com o desenvolvimento das atividades das sociedades e particularmente das classes o valor do relacionamento estreito entre os cristãos, a importância do encontro regular, a troca de experiências e apoio mútuo entre os irmãos sob uma liderança zelosa e devidamente preparada. Assim, podemos deduzir que o discipulado no movimento wesleyano foi marcado pelo sucesso da junção entre os relacionamentos e o grupo de apoio firmado e orientado por uma liderança sólida e bem preparada.


Observação: Este texto também faz parte do Manual da Visão de Discipulado e Prática de Grupos Pequenos da 5ª. Região Eclesiástica da Igreja Metodista.


[1] Plano Nacional Missionário 2012-2016. P.21-22.
[2] LAZIER, Bispo Josué Adam. Aspectos bíblicos e conceituação do discipulado. Biblioteca Vida e Missão, Série Discipulado, nº 4. 1a Edição - Maio de 2004.
[3] LAZIER, Bispo Josué Adam. Aspectos bíblicos e conceituação do discipulado. Biblioteca Vida e Missão, Série Discipulado, nº 4. 1a Edição - Maio de 2004. Pags. 31-32
[4] KORNFIELD, David E.  As bases na formação de discipuladores.  Editora Sepal.
[5] Resumo do Caráter Cristão – Série Discipulado, Biblioteca Vida e Missão – Editora Cedro.
[6] RIBEIRO, Claudio de Oliveira (org.). Teologia e Prática na Tradição Wesleyana: Uma Leitura a Partir da América Latina e Caribe. P. 219 à 231.
[7] REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização e Agentes do Metodismo.  Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02. P. 05.
[8] REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização e Agentes do Metodismo.  Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02. P. 10.
[9]  HENDERSON, D. Michael. Um Modelo para Fazer Discípulos: A reunião de Classes de John Wesley. P. 29.
[10] RUNYON, Theodore. A Nova Criação. P. 151.
[11] HEITZENRATER, Richard. Wesley e o Povo Chamado Metodista. Págs. 117-119.
[12] HENDERSON, D. Michael. Um Modelo para Fazer Discípulos: A reunião de Classes de John Wesley. P. 32.
[13] RENDERS, Helmut, A  Evolução  de  Pequenos Grupos  na  História da Igreja Metodista, Revista  Caminhando,  Ano  7,  no.  10, P. 71
[14] RUNYON. Theodore. A Nova Criação. P. 158.
[15]  REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização e Agentes do Metodismo.  Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02. Pags. 16-17.