Discipulado e Missão têm estado
entre os temas mais discutidos e debatidos em nossa Igreja Metodista nos
últimos anos. Por isso, na tentativa de contribuir com este debate, apresento o
texto a seguir, tendo como base o Plano Nacional Missionário 2012-2016 aprovado
no último Concílio Geral da Igreja Metodista, bem como, as percepções
teológico-históricas e práticas da vivência pastoral do Discipulado numa Igreja
Ministerial.
A
terceira ênfase de nosso PNM (Plano Nacional Missionário) traz o seguinte texto:
“Promover o discipulado na perspectiva
da salvação, santificação e serviço. Nos últimos anos, a Igreja Metodista tem
dado atenção ao Programa de Discipulado. “O Discipulado, à luz do próprio
Cristo, fundamenta a comunhão, a convivência, a comunicação e a formação do
caráter das pessoas relacionadas com o Senhor e com sua comunidade”.
O discipulado precisa ser
compreendido como um modo de ser igreja. Assim sendo, não é um programa para
atender o “modismo eclesiástico”. Ao contrário, mergulhando nos estudos do
Evangelho, vamos perceber que o discipulado é uma condição para que as pessoas
possam seguir o caminho aberto por Jesus Cristo. Ser discípulo e discípula de
Jesus é uma exigência. No início do seu ministério terreno, Ele formou um grupo
de discípulos e, igualmente, preparou essas pessoas (formando uma comunidade),
para viver a radicalidade do projeto do Reino de Deus, produzindo frutos de fé,
misericórdia, compaixão, justiça e amor, à luz do desafio do mandamento do
Senhor. Por isso, o Evangelho de Jesus Cristo, narrado por Mateus, Marcos,
Lucas e João, é a base do projeto de discipulado, ou seja, viver como Jesus
viveu, perdoar como Jesus perdoou, sentir como Jesus sentiu, intervir. No
caminho do discipulado, Ele confere identidade a cada discipulado ou discípula.
Do mesmo modo, transmite as instruções acerca dos desafios e das oportunidades
para segui-Lo com alegria e singeleza de coração.
Também o movimento wesleyano
impõe uma prática do discipulado focada na salvação, na santificação e no
serviço em nossa caminhada cristã. “As classes, como recriação da comunidade de
fé, foram o segredo da implantação do movimento metodista”. As classes
produziram uma Igreja inserida em sua realidade utilizando uma estrutura de
testemunho, mútuo amparo e instrução. Elas tornaram possível o crescimento, não
apenas em termos numéricos, mas em qualidade e estilo de vida pessoal e
comunitário.
Wesley dizia não conhecer
religião que não fosse social. Nessa direção, três movimentos estão sendo
conduzidos no discipulado metodista: a) Estilo de vida em que Cristo é o
modelo, ou seja, “caminho, verdade e vida”, à luz dos valores da fé cristã e na
perspectiva do Reino de Deus; b) Método de pastoreio no qual o pastor e a
pastora dedicam maior atenção aos grupos pequenos e promovem dessa forma,
relacionamentos mais fraternos e pastoreio mútuo; c) Estratégia para o
cumprimento da missão visando a Evangelização e o Crescimento. Nos termos do
ensino de Jesus, enviando os seus discípulos (Mateus 10), o discipulado é
integrado à Missão da Igreja, mantendo-se sempre a perspectiva da salvação,
santificação e serviço"[1]
A partir deste relato, o que podemos
entender por Discipulado? – Na realidade, antes, iremos primeiro identificar o
que não é discipulado, para depois, defini-lo com mais precisão.
1.
Discipulado não é uma classe de aula cheia de alunos
com um professor à frente. Podemos começar assim em grandes igrejas, com o
objetivo de ir passando uma visão, para formar devagar alguns discipuladores,
mas, uma reunião assim não é ainda um discipulado;
2.
Discipulado não é um relacionamento de aconselhamento
esporádico, no qual uma pessoa, quando precisa, quando tem alguma necessidade
ou problema, procura alguém mais experiente para receber conselho ou uma nova
direção sobre determinadas circunstâncias;
3.
Outra coisa que não é discipulado: duas ou mais pessoas
reunidas, onde uma delas é mais experiente que as outras com o propósito de
lerem a Bíblia ou fazerem algum estudo.
Porque o cerne do discipulado
não é baseado em nada disso que foi descrito. Podemos dizer então que: discipulado
são vínculos íntimos, sólidos, fortes entre um discipulador e uma outra ou
outras pessoas cujos corações são ensináveis. O discípulo deve ser aberto,
maleável, tratável e ter um desejo forte de ser formado em Deus. O discipulador
será alguém cuja vida cristã global seja totalmente aprovada e previamente
discipulado por outra pessoa. Estas pessoas terão como objetivo uma posição
mais elevada em Deus, de aprendizagem da Palavra e da vida cristã para os
discipulandos. Deve haver entre o discipulador e discípulos, além dos vínculos,
ligaduras no espírito, alianças, unidade e concordância, compromisso e
submissão de andar na luz, de se deixarem tratar. Esse comprometimento é que
define se o relacionamento é ou não discipulado.
Quatro essenciais sobre o
Discipulado:
1) ESTILO DE VIDA:
Entrar no padrão do discipulado
é entrar no estilo de vida de Jesus. Somos convidados pelo próprio Jesus,
através da Palavra, a viver uma vida de despojamento, de negação de nós mesmos
a favor do Reino de Deus, tomando diariamente a nossa cruz e seguindo as
pegadas no Mestre. Nesse caso, Jesus é o nosso modelo. Isso é o centro do
Evangelho, porque, no viver cristão, o caminho do crescimento é para baixo:
“Aquele
que se exaltar será humilhado, mas aquele que se humilhar será exaltado”; “Porque
os últimos serão primeiros”; “Humilhai-vos, portanto sob a poderosa mão
de Deus, para que Ele em tempo oportuno vos exalte”. (Mt 23.12; 19.30; 1 Pe
5.6).
Discipulado, então, é viver uma
vida de perdas para que o reino de Deus tenha os ganhos. Esta é a única forma
que Deus tem para produzir em nós o quebrantamento necessário para uma vida
cheia de unção do Espírito e uma real dependência de Deus.
2) MÉTODO DE PASTOREIO:
Esta
é a segunda característica do processo de Discipulado:
Ele pode ser usado como
método de pastoreio, no qual o pastor e a pastora dedicam maior atenção aos
grupos pequenos e promovem, desta forma, relacionamentos mais fraternos e o
pastoreio mútuo entre os membros da igreja. Com Dons e Ministérios enfatizamos
uma Igreja de serviço (diakonia), na qual todos os membros participam do
cumprimento da missão. Com o Discipulado enfatizamos uma Igreja de
relacionamentos (koinonia), fundamental para que a integração entre os diversos
ministérios seja pautada no amor, no perdão, no apoio mútuo, na solidariedade,
na valorização e reconhecimento do dom e ministério do outro[2].
3) ESTRATÉGIA PARA O CUMPRIMENTO DA
MISSÃO:
O
Discipulado, pensado a partir de uma ampla visão de aperfeiçoamento da Igreja
Local também pode ser considerado como uma das eficientes estratégias para o
recrutamento, envolvimento, treinamento e envio dos membros da comunidade de fé
para a realização da missão. Sob a perspectiva do ministério de Jesus podemos
afirmar que o Discipulado objetivamente pressupõe o envio missionário dos/as
discípulos/as.
4) ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DE LÍDERES:
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”. (Mt
28.19-20)
De
acordo como Bispo Josué Adam Lazier:
O tema central da Grande Comissão é fazer
discípulos. Fazer é o verbo central desta frase. Os demais, ide, batizar e
ensinar, são particípios no original grego e qualificam o verbo central.
Portanto o ide, o batizando e o ensinando não são ordens separadas de
Jesus e fazem parte integral da Grande Comissão. Aparentemente, não há
diferença alguma da compreensão habitual que faz do ide o imperativo da
frase, mas esta compreensão fraciona a Grande Comissão. O acento do texto está
no Fazer discípulos e não no ide. O ide é parte do fazer
discípulos. Fazer discípulos inclui todas as dimensões da vida do ser
humano e da fé decorrentes da experiência com o conhecimento de Deus[3].
“Como ação o discipulado é uma relação pessoal e comprometida onde um discípulo
mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus Cristo a aproximarem-se mais Dele
e assim frutificarem” [4]
Todos aqueles
que desejam fazer discípulos precisam estar dispostos a investir a sua vida na
formação de outros, pois o discipulado só acontece através de relacionamentos pessoais e comprometidos,
isso quer dizer que é necessário tempo junto para poder discipular.
O discipulado
através dos relacionamentos visa uma transferência de vida, crescimento
cristão, visa à prática do que tem sido ensinado, e o desenvolvimento da pessoa
em cumprir a vontade de Deus como verdadeiro discípulo/a de Jesus.
Desde o
Antigo Testamento a Bíblia nos fornece informações concretas sobre o
Discipulado. A proposta de Jetro (Êxodo 18.13-27) para o seu genro Moisés é
muito interessante e nos ensina várias lições como: Jetro dá sua contribuição a
Missão de Deus se envolvendo efetivamente, ensinando, instruindo Moisés.
Claramente, a
grande lição que podemos absorver, entre muitas é o fato de que nós não podemos
ficar alheios, à margem do desafio do Senhor, na perspectiva de expectadores:
Nosso Deus chama a todos para participar da construção de seu Reino sobre a
face da terra.
Mesmo Moisés
tendo experimentado um grande mover de Deus em toda a ação da saída do Egito,
ainda assim, manifestou humildade ao receber e a praticar o conselho dado por
seu sogro. Com isso, podemos afirmar que o crescimento quantitativo e
qualitativo de nosso povo passa efetivamente pela organização em grupos de
liderança e formação líderes no padrão de Deus e não dos homens. (cf. Êxodo 18.21)
O Discipulado
é um chamado para caminhar junto e servir (2 Reis 2.1-18, 3.11). A missão não é
realizada de forma individualista, ou seja, um líder isoladamente não pode “carregar”
a obra de Deus, pois esta atitude não é o padrão bíblico. Eliseu é um autêntico
discípulo de Elias. Ele segue, caminha e serve aquele que o ensinou o amor de
Deus.
O senhor
Jesus formou um grupo de discipulado, conforme nos relata os evangelhos. Mas, o
incontestável embasamento do discipulado na Bíblia está na Grande Comissão.
Jesus antes de ir para junto do Pai deixou uma ordem bem para clara para os
seus discípulos:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até á consumação do
século”. (Mateus 28.18-20)
O que se faz
com a ordem de Jesus? – Enquanto obedecemos, acatamos, pois, nós cristãos sem
titubear cremos que a ordem do nosso mestre é importante, não é uma sugestão, e
nem algo opcional. No Novo Testamento são relatos vários exemplos das casas em
que aconteciam os encontros de cristãos: De casa em casa (Atos 2.46); Casa da
mãe de Marcos em Jerusalém (Atos 12.12); Casa de Áquila e Priscila (Romanos 16.3-5,
Atos 18.3); Casa de Lídia em Filipos (Atos 16.40); Casa de Jasom em Tessalônica
(Atos 17.5); Casa de Tício, o justo (Atos 18.7); Casa de Filipe em Cesaréia
(Atos 21.8); Casa de Estéfanes (1 Cor 1.16, 16.15); Casa de Ninfa (Col 4.15)
“Vivemos numa
sociedade pós-moderna, onde o sentido humano tem sido focalizado demasiadamente
nas realizações e não nos relacionamentos (no ter, no consumismo, na fama, nas
obras faraônicas, nos aplausos e no dinheiro). O cristianismo é uma proposta
divina de comunhão, de alegria, de vida, de cura, de fé e de relacionamentos.
Você decide o que fazer com a ordem de Jesus que está na Bíblia”.[5]
Ao iniciar uma análise histórica sobre o
Discipulado no Metodismo, vamos perceber que atualmente, existe uma grande
distancia entre o movimento de Wesley e a Igreja organizada tanto na América do
Norte, Inglaterra e, na América do Sul.
De acordo com Philip Wingeier-Rayo – Professor de Missões na
Universidade Pfeiffer e missionário da Junta de Missões Globais da Igreja
Metodista Unida nos Estados Unidos – a causa deste lapso se deve ao
distanciamento inicial da clareza da missão metodista e do mundo para o qual
fora enviado. Ele afirma que o distanciamento da população marginalizada e o
crescente clericalismo e a concentração de poder na figura do pastor/a
contribuíram decisivamente para a perda desta metodologia que hoje, tem sido
amplamente utilizada por outros movimentos, enquanto que os metodistas, apesar
de suas raízes wesleyanas deixaram a vivencia do trabalho em grupos pequenos[6].
O Prof. Duncan Alexander Reily nesta mesma direção, afirma que a
herança missionária e eclesiológica do movimento metodista em Wesley se deve a
interdependência de quatro elementos: “a missão, o lugar para onde a missão se
desenvolve, os instrumentos e métodos usados para tanto, e o/as agentes da
missão”[7].
Reily defende a tese do fortalecimento do movimento metodista após a
experiência de Aldersgate – 24 de maio de 1738 – mas, consolidada a partir da
Primeira Conferencia realizada entre os dias 25 à 30 de Junho de 1744 na
Fundação em Londres para tratar das questões da doutrina e ministério. Wesley
tinha em mente o fato de que o metodismo surgira não apenas com um simples e
arbitrário empreendimento humano, e, nesta Conferência, ao lado de outros nove
participantes discutiram de maneira muito intensa o movimento e a obra confiada
a estes pelo próprio Deus:
“E como foi que
estes dez homens definiram a missão? Antes de
mais nada, convém mencionar que essa primeira Conferência fornecia um modelo
para as que se seguiram. A ata da Conferência foi redigida em forma de
perguntas e respostas. A redação da pergunta é reveladora de uma profunda
pressuposição: ‘O que podemos crer, racionalmente, tem sido o propósito de Deus
em levantar o povo chamado Metodista?’ Essa pergunta carrega nos eu bojo uma
profunda convicção de que o metodismo não surgira por acaso. Deus, na sua
providencia e para os propósitos, o havia levantado. E quais seriam esses
propósitos? Responderam: ‘Para reformar a nação e, particularmente, a igreja, e
espalhar a santidade bíblica sobre a terra’. Dez homens, pobres e sem o apoio
de qualquer força política ou militar, dão essa resposta audaciosa. O mesmo
Deus que os havia levantado realizaria a obra!”[8].
Motivado por George Whitefield em 02
de abril de 1739 Wesley pregou pela primeira vez ao ar livre na região
Kingswood dando início à uma revolução espiritual que transformou a sociedade
britânica durante as décadas seguintes.
“Whiefield tinha iniciado e popularizado o evangelismo
de massa para o povo sem igreja, mas Wesley organizou o movimento e pôs sob
administração sistemática. Whitefield esperava que o povo “ávido” se firmasse
por iniciativa própria, mas Wesley não deixou nada ao acaso. Ele se empenhou e
se certificou de que os que estavam levando a sério essa vida nova fossem
canalizados para pequenos grupos, para crescimento no discipulado. Esses
pequenos encontros eram chamados de “classes”, e formaram a base da reforma
metodista durante o século seguinte. A “reunião de classe” acabou se tornando o
meio principal de levar milhões dentre as pessoas mais desalentadas da
Inglaterra à disciplina libertadora da fé cristã” [9].
John
Wesley adotou a prática de organizar as sociedades metodistas da mesma forma
que a Igreja da Inglaterra havia desenvolvido a partir da experiência pietista
alemã de grupos pequenos. Os contatos de Wesley com os morávios, durante seu
tempo como missionário na América e, mais tarde, na Inglaterra através de sua
forte amizade com o líder morávio Peter Böhler, além de sua visita à comunidade
Moravia de Herrnhurt, serviram de inspiração para a adoção desse modelo de
grupos no movimento metodista. John Wesley e Peter Böhler fundaram a Sociedade
de Fetter Lane – Londres, em 1º de maio de 1738. [10]
Em 15 de fevereiro de 1742, ele se reuniu com líderes da Sociedade de
Bristol para estudar como pagar as dívidas do Salão Novo. Um dos líderes, o Capitão Foy propôs dividir a
sociedade em grupos de doze, com um líder cada, o qual seria responsável pela
arrecadação. Toda a sociedade foi então dividida em “classes”, subdivisões por vizinhança de cerca
de doze pessoas, cada classe tendo um líder determinado pelo próprio Wesley: “aqueles
em quem posso confiar”. A
importância desses grupos logo ultrapassou seu plano original. Assim que os
líderes começaram suas visitas semanais, logo descobriram problemas entre os
membros: brigas domésticas, bebedeiras e outros tipos de comportamento fora da
santidade. Wesley viu a oportunidade pastoral pela estrutura prática das classes: os líderes das classes se tornaram guias espirituais de
seu grupo. Wesley se reunia com os líderes semanalmente. A Sociedade de Londres
tinha nessa época mais de mil membros, mas esse método ajudou Wesley a vencer
as dificuldades de conhecer cada pessoa e estender o toque pessoal de sua
supervisão pastoral (e disciplina). Por razões as mais variadas, tornou-se mais
vantajoso reunir os membros das classes em um só lugar do que visitá-los em
suas próprias casas. Desse modo, como Wesley disse: “uma inquirição mais completa
foi feita sobre o comportamento de cada pessoa... conselhos ou reprovações eram
dados sempre que exigidos, as brigas foram apaziguadas, desentendimentos foram
removidos; e depois de uma hora ou duas passadas neste serviço de amor, eles
concluíam com preces e ações de graças”
(Societies, 262). As classes
continham todas as pessoas da sociedade, não apenas aquelas que voluntariamente
se agrupavam. Permitiam o exercício da disciplina entre toda a sociedade.[11]
“A revolução wesleyana é uma ilustração de que a
transformação espiritual duradoura não resulta da pregação dinâmica ou uma
doutrina correta. Ela acontece pro meio do discipulado sólido, segundo a Grande
Comissão de Cristo “ir a todo o mundo e fazer discípulos”. A reunião de classe
que Wesley desenvolveu foi a ferramenta pela qual pregação e doutrina foram
combinadas com vistas à renovação espiritual. Ela conduziu a revolução”.[12]
Helmut Renders, professor da Faculdade de Teologia em São Bernardo do
Campo – UMESP – em um trabalho publicado em 2002, construiu um interessante
quadro comparativo do movimento wesleyano, destacando três elementos essenciais
do metodismo daquele período: a sociedade, as classes e os bands:
“Uma sociedade representava o total dos/as membros
metodistas num certo local. O equivalente, hoje, seria uma igreja local,
comunidade, ou um ponto de pregação. Todas as pessoas que mostrassem interesse
em filiar-se a uma sociedade metodista tinham que entrar numa classe. A
dinâmica desses grupos era marcada pela troca de experiências a partir de
perguntas frequentemente repetidas, desde 1744, inclusive nas Regras Gerais.
Os/as integrantes das classes tinham experiências
espirituais diferentes. Nelas encontravam-se pessoas na busca da fé e pessoas
com a certeza da fé. A partir das perguntas, todas elas trocavam as suas
experiências pessoais, inclusive o(a) líder da classe. Temos então aqui um
processo mútuo, em que um(a) líder cuidava, em primeiro lugar, do processo mútuo. Além disso, compartilhava
também a sua experiência pessoal, com os seus altos e baixos. Assim, falavam
todos/as das suas derrotas como das suas vitórias, na busca de crescimento
pessoal. A organização das classes seguiu uma lógica geográfica para atender
aos problemas de locomoção.
Os bands foram constituídas meramente por pessoas que
tinham a certeza da fé. Importante, porém, é que a dinâmica nos grupos não
mudou. Houve novamente uma lista de perguntas que serviu para o auto-exame e o
exame mútuo. A participação era voluntária, mas, de um integrante se esperava
uma radical abertura para a avaliação mútua.
No tempo de Wesley havia mais uma especificidade, por meio dos bands seletos
(selected bands). Nelas se encontravam pessoas em busca da perfeição cristã.
[13]
Sintetizando todo o referencial acima mencionado, podemos resumidamente
definir que:
1)
Sociedades: Centenas ou milhares de pessoas. As
Sociedades foram o meio de disciplina e edificação para as multidões
despertadas pela pregação ao ar livre e manifestando o desejo de “fugir da era
vindoura” (cf. Lucas 3.7). Para permanecer deviam exibir o outro lado do
arrependimento, ou seja, os frutos. (cf. Lucas 3.9-11).
2)
Classes: Aproximadamente 12 pessoas sob a orientação de
um líder para oração, estudo, confissão e busca de fé. Ideia originada do
Capitão Foy.
3)
Bands: Aproximadamente 06 pessoas e um líder que
professavam a experiência da fé e concordavam com a prática de franqueza
extrema, no falar e no ouvir, buscando a perfeição cristã.
A verdadeira essência da liderança do movimento encontrava-se nos
líderes. Eles forneciam o atendimento pessoal e pastoral e o cuidado para com
os membros individualmente. Qualquer membro ausente poderia esperar uma visita
do líder da classe durante a semana. Desse
modo, ele poderia oferecer ajuda aos
doentes e incapacitados, encorajar os desanimados e reprovar os afastamentos.
Os líderes das classes desenvolviam uma variedade de atividades pastorais, e
por meio de sua liderança semanal nas orações, nos cânticos e nos testemunhos
era possível descobrir se possuíam os dons e o chamado para servir como pastores
leigos nas próprias sociedades ou em outras. [14]
“Nas sociedades, intensidade da liderança leiga era
impressionante. Havia bands de mulheres e de homens; cada célula era composta
por, aproximadamente, seis pessoas, orientada por um/a guia; as classes idem.
Grande parte do atendimento pastoral e caritativa realizado na sociedade era
feito nessas “pequenas igrejas”. Foi ali, também que muitos pregadores e
pregadoras receberam a sua vocação e treinamento prático. Nas escolas,
orfanatos, atividades de assistência, predominavam os ministérios de mulheres,
de homens leigos/as” [15].
John Wesley aprendeu com o desenvolvimento das atividades das
sociedades e particularmente das classes o valor do relacionamento estreito
entre os cristãos, a importância do encontro regular, a troca de experiências e
apoio mútuo entre os irmãos sob uma liderança zelosa e devidamente preparada.
Assim, podemos deduzir que o discipulado no movimento wesleyano foi marcado
pelo sucesso da junção entre os relacionamentos e o grupo de apoio firmado e
orientado por uma liderança sólida e bem preparada.
[1]
Plano Nacional Missionário 2012-2016. P.21-22.
[2] LAZIER,
Bispo Josué Adam. Aspectos bíblicos e
conceituação do discipulado. Biblioteca
Vida e Missão, Série Discipulado, nº 4. 1a Edição - Maio de
2004.
[3] LAZIER,
Bispo Josué Adam. Aspectos bíblicos e conceituação do discipulado. Biblioteca
Vida e Missão, Série Discipulado, nº 4. 1a Edição -
Maio de 2004. Pags. 31-32
[4] KORNFIELD, David E.
As bases na formação de discipuladores.
Editora Sepal.
[5] Resumo do Caráter Cristão – Série Discipulado,
Biblioteca Vida e Missão – Editora Cedro.
[6]
RIBEIRO, Claudio de Oliveira (org.). Teologia e Prática na Tradição Wesleyana:
Uma Leitura a Partir da América Latina e Caribe. P. 219 à 231.
[7]
REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização e Agentes do Metodismo. Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02.
P. 05.
[8]
REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização e Agentes do Metodismo. Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02.
P. 10.
[9] HENDERSON, D. Michael. Um Modelo para Fazer
Discípulos: A reunião de Classes de John Wesley. P. 29.
[10]
RUNYON, Theodore. A Nova Criação. P. 151.
[11] HEITZENRATER, Richard. Wesley e o Povo Chamado
Metodista. Págs. 117-119.
[12]
HENDERSON, D. Michael. Um Modelo para Fazer Discípulos: A reunião de Classes de
John Wesley. P. 32.
[13] RENDERS, Helmut, A
Evolução de Pequenos Grupos na História
da Igreja Metodista, Revista
Caminhando, Ano 7,
no. 10, P. 71
[14]
RUNYON. Theodore. A Nova Criação. P. 158.
[15] REILY, Duncan Alexander. Missão, Organização
e Agentes do Metodismo. Biblioteca Vida e Missão / Metodismo – nº. 02.
Pags. 16-17.
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