1. Como Desenvolver uma Liderança/Pastorado Público?
Entre muitos conceitos que
permeiam o cenário da construção de uma liderança pastoral em nosso tempo, sem
dúvida, os que tratam do tema da vocação são os mais divergentes. Liderança e
Pastorado Público certamente passam por esta reflexão sobretudo, devido ao fato
de que, ao longo dos tempos a figura pastoral transformou-se numa espécie de
paradigma em que, se espera que este/a seja, ao mesmo tempo, pregador/a,
evangelista, mediador/a de conflitos, pai e marido exemplar, bem como, mulher e
esposa ideal, economista, psicólogo/a, zelador/a, construtor/a e uma infinidade
de outras funções, cada uma delas, adequada ao contexto em que a igreja ou
instituição está inserida.
Efetivamente o ministério pastoral
na atualidade precisa retrabalhar a noção do que é privado e do que é público.
E esta sem dúvida tem se tornado um motivo de crise no ministério pastoral na
atualidade.
1.1. Desafio
para o Futuro: O Resgate da Autenticidade
A sociedade que presenciamos na
atualidade é definida por muitos autores como sendo uma sociedade pós-moderna,
em que valores e referenciais a todo tempo são questionados e na maioria das
vezes, substituídos por outros valores. Isto é uma complicada relação cultural
que de certo modo, esvazia o sentido de tudo aquilo que é convencionalmente
conhecido.
Liderança e Pastorado Público para
ser efetivamente um meio de graça atuante no presente século precisa,
necessariamente resgatar sua integridade e autenticidade em meio à sociedade. Por
autenticidade e integridade entendemos a construção de uma liderança ética e
que, não focalize suas ações em relações partitivas do ser humano, mas, que
vise o cuidado integral da pessoa humana. A dimensão sacerdotal, profética e
didática deve direcionar esta liderança e pastorado público para a construção
de uma ação terapêutica pautada no conhecimento das realidades vivenciadas
pelas cidades na atualidade.
O carisma da expressão desta
liderança e consequentemente deste pastorado público deve ser recuperado. O
desgaste promovido pelos meios de comunicação e pelo agir incorreto de muitos
destas agentes certamente não será superado rapidamente. Certamente uma geração
inteira, deverá labutar para que a figura pastoral volte a ser creditada junto
a comunidade de forma geral.
A autenticidade e a integridade
serão resgatadas diante dos desafios da era presente quando, efetivamente,
voltar a ser representante direto da ação divina de cuidado com o ser humano
integral, e mais do que isso, construindo pontes que efetivamente possibilitem
ao sujeito uma real mudança de sentido.
A Liderança e o Pastorado Público precisam
ser instrumentos conciliadores, pelos quais Deus possa se revelar à humanidade.
A esfera espiritual da vida pastoral precisa ser avivada, não no sentido usual
deste termo, mas, no sentido de promover encontros divino-humanos[1].
1.2.
Como Conscientizar a Igreja quanto à sua
Importância nos Espaços Públicos?
Podemos entender que este é um
tema extremamente atual e relevante para nossa reflexão. É certo que o mesmo
precisa ser visto de uma forma madura e atualizada, tendo como base uma visão de
Reino e não uma visão ou percepção meramente institucionalizada.
Sem dúvida, a contribuição social
realizada por muitas igrejas no Brasil e em todo o mundo é imensurável:
escolas, creches, universidades, clínicas de recuperação, etc, sempre foram o
braço social e público de muitas igrejas. Atualmente, há uma ação cada vez mais
midiática, incluindo o fato de que muitas igrejas conseguiram adquirir
emissoras de rádio e televisão por exemplo.
O grande desafio da
conscientização da Igreja sobre sua relevância e ação pública reside justamente
numa intensa reflexão sobre propósito e missão.
2. Quatro Pilares da Missão
“Sem evangelização não existe igreja, assim como sem propósito não há programas. A identidade da comunidade da fé se dá em sua missão evangelizadora e esta é indicada por Jesus, quando, antes de sua ascensão, diz a seus discípulos”:
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”. [2]
1) Unidade com Cristo
As igrejas devem estar cientes de que a unidade cristã não
fará com que elas percam as suas identidades, ou seja, elas não precisam se
despersonificar e, nem cair em atitudes individualistas, pelo contrário, devem
estar juntas e perseverantes na edificação de todo o corpo de Cristo.
2) Identificação com as
Necessidades dos Outros
No evangelho de Mateus, podemos perceber Jesus se
identificando e até se sensibilizando com a necessidade do outro. Jesus não
deixou de ser quem Ele era e nem perdeu a essência de sua proposta porque se
identificou com o outro, por isso as igrejas devem estar cientes de que ao se
preocuparem com a necessidade do outro, elas não perderão as suas identidades.
3) Disposição para Ajudar
Todas as atitudes de Jesus nos mostram amor e compaixão e
é isso que Ele espera de nós quando estamos realizando a sua missão
evangelizadora. Esta ação deve ser sempre solidária para com aqueles/as que são
golpeados pelas estruturas cruéis e desumanas da nossa sociedade. Deus não está
preocupado com as denominações, com as placas das igrejas, mas com a disposição
para o serviço, ou seja, para a realização da sua obra.
4) Vivendo a palavra
Jesus nos ensinou a andarmos segundo a vontade de Deus,
isto é, de conformidade com a palavra de Deus. Ele espera que possamos ser
exemplos na vivência de sua palavra, para que a missão evangelizadora possa ser
eficaz em seus resultados.
3. Base para o
Testemunho Cristão
“Todos os que
creram estavam juntos, e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e
bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partam pão de casa em
casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando
a Deus e contando com a simpatia de todo o povo”. (At 2. 44-47a)
A vida da Igreja primitiva foi e é para nós um intenso
sinal de unidade e solidariedade para o testemunho cristão. A esses irmãos e irmãs
não lhes importava despojar-se de seus bens, de tudo o que tinham, tão somente
com o propósito de compartilhar e de estar juntos. Eles entenderam a mensagem
de Jesus Cristo. E deram testemunho e ganharam a simpatia de todo o povo. (v.47a)
Assim, o compromisso de conscientização social é a base
fundamental para o compartilhar solidário com nosso povo. Com ações eficazes
dando testemunho ao nosso povo através de experiências especificas em
solidariedade. Compartilhar sem nenhuma intenção ou desejo pessoal de
denominação, de seita religiosa, de ideologia ou de interesse material. Ser
solidário com atitudes concretas e reais. Estes são fundamentos primordiais
para uma caminhada de união e solidariedade para um testemunho cristão. Pois
compartilhar significa não fazer distinção entre as pessoas, tanto no terreno
econômico, no político ou, ainda mesmo, no religioso. Compartilhar com fé,
oração, inteligência, mas em comunidade, sem qualquer distinção.
3.1. Solidariedade: Essência do Evangelho
Falar de solidariedade é apontar para a própria essência
do Evangelho. Podemos perceber que o Cristo está totalmente identificado com o
fraco, com as mulheres tristes e abandonadas, com as crianças desamparadas da
sociedade, com os presos, os enfermos, com os que estão carregados de dor e
cansados de viver uma existência sem vida. E Ele se une a esse povo sofredor,
junta-se a ele com os braços abertos chama insistentemente: “Vinde a mim
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt.
11.28).
Como Igreja de Cristo, precisamos desta mesma compaixão e
essa mesma ternura. Esta foi uma das primeiras características que se notam, de
forma palpável na experiência da igreja primitiva é que, como costume
cotidiano, estavam juntos, tinham tornado realidade o processo da unidade. É
necessário agora fazer cumprir o texto de João 17.21 “como és tu, ó Pai, em mim
e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me
enviaste”.
Qual é, e qual deve ser a esperança solidária da Igreja
Hoje para com a sociedade? A resposta está em Efésio 5.1: “Sede, pois,
imitadores de Deus, como filhos amados”. É a Jesus que devemos imitar e seu
ministério foi bem claro em três aspectos:
a)
Jesus deu boas notícias aos pobres e proclamou liberdade
aos cativos (Lc. 4.18-18). A Igreja não deve recusar esse desafio, pois estaria
negando esperança solidariedade ao povo;
b)
Jesus compreendia a necessidade de fazer obras de saúde
e atender às necessidades do povo, ele mesmo disse: “Pois o próprio Filho do
homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc. 10.45). A Igreja deve
solidarizar-se com as necessidades do povo, pois está posta para servir,
consolar e trazer a esperança de vida que há em Jesus;
c)
Jesus não só prega e cura, mas é também companheiro que
participa das preocupações de seu povo, de suas dores e alegrias (João
11.33-36). A Igreja, como corpo de Cristo, deve sentir e andar como seu senhor
andou e aqui, no contexto que nos compete servir, devemos projetar nesse povo o
calor, a luz, o companheirismo.
Não existe verdadeira solidariedade se o sacrifício não
estiver no meio. Se a proclamação do Evangelho se faz nesta perspectiva de
unidade estaremos trazendo esperança solidária para todo o povo.
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