quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

TEOLOGIA E CIDADANIA

1. Como Desenvolver uma Liderança/Pastorado Público?

Entre muitos conceitos que permeiam o cenário da construção de uma liderança pastoral em nosso tempo, sem dúvida, os que tratam do tema da vocação são os mais divergentes. Liderança e Pastorado Público certamente passam por esta reflexão sobretudo, devido ao fato de que, ao longo dos tempos a figura pastoral transformou-se numa espécie de paradigma em que, se espera que este/a seja, ao mesmo tempo, pregador/a, evangelista, mediador/a de conflitos, pai e marido exemplar, bem como, mulher e esposa ideal, economista, psicólogo/a, zelador/a, construtor/a e uma infinidade de outras funções, cada uma delas, adequada ao contexto em que a igreja ou instituição está inserida.

Efetivamente o ministério pastoral na atualidade precisa retrabalhar a noção do que é privado e do que é público. E esta sem dúvida tem se tornado um motivo de crise no ministério pastoral na atualidade.

1.1.      Desafio para o Futuro: O Resgate da Autenticidade

A sociedade que presenciamos na atualidade é definida por muitos autores como sendo uma sociedade pós-moderna, em que valores e referenciais a todo tempo são questionados e na maioria das vezes, substituídos por outros valores. Isto é uma complicada relação cultural que de certo modo, esvazia o sentido de tudo aquilo que é convencionalmente conhecido.

Liderança e Pastorado Público para ser efetivamente um meio de graça atuante no presente século precisa, necessariamente resgatar sua integridade e autenticidade em meio à sociedade. Por autenticidade e integridade entendemos a construção de uma liderança ética e que, não focalize suas ações em relações partitivas do ser humano, mas, que vise o cuidado integral da pessoa humana. A dimensão sacerdotal, profética e didática deve direcionar esta liderança e pastorado público para a construção de uma ação terapêutica pautada no conhecimento das realidades vivenciadas pelas cidades na atualidade.

O carisma da expressão desta liderança e consequentemente deste pastorado público deve ser recuperado. O desgaste promovido pelos meios de comunicação e pelo agir incorreto de muitos destas agentes certamente não será superado rapidamente. Certamente uma geração inteira, deverá labutar para que a figura pastoral volte a ser creditada junto a comunidade de forma geral.

A autenticidade e a integridade serão resgatadas diante dos desafios da era presente quando, efetivamente, voltar a ser representante direto da ação divina de cuidado com o ser humano integral, e mais do que isso, construindo pontes que efetivamente possibilitem ao sujeito uma real mudança de sentido.

A Liderança e o Pastorado Público precisam ser instrumentos conciliadores, pelos quais Deus possa se revelar à humanidade. A esfera espiritual da vida pastoral precisa ser avivada, não no sentido usual deste termo, mas, no sentido de promover encontros divino-humanos[1].

1.2.      Como Conscientizar a Igreja quanto à sua Importância nos Espaços Públicos?

Podemos entender que este é um tema extremamente atual e relevante para nossa reflexão. É certo que o mesmo precisa ser visto de uma forma madura e atualizada, tendo como base uma visão de Reino e não uma visão ou percepção meramente institucionalizada.

Sem dúvida, a contribuição social realizada por muitas igrejas no Brasil e em todo o mundo é imensurável: escolas, creches, universidades, clínicas de recuperação, etc, sempre foram o braço social e público de muitas igrejas. Atualmente, há uma ação cada vez mais midiática, incluindo o fato de que muitas igrejas conseguiram adquirir emissoras de rádio e televisão por exemplo.

O grande desafio da conscientização da Igreja sobre sua relevância e ação pública reside justamente numa intensa reflexão sobre propósito e missão.

2. Quatro Pilares da Missão

“Sem evangelização não existe igreja, assim como sem propósito não há programas. A identidade da comunidade da fé se dá em sua missão evangelizadora e esta é indicada por Jesus, quando, antes de sua ascensão, diz a seus discípulos”:

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”. [2]

1)    Unidade com Cristo

As igrejas devem estar cientes de que a unidade cristã não fará com que elas percam as suas identidades, ou seja, elas não precisam se despersonificar e, nem cair em atitudes individualistas, pelo contrário, devem estar juntas e perseverantes na edificação de todo o corpo de Cristo.

2)    Identificação com as Necessidades dos Outros

No evangelho de Mateus, podemos perceber Jesus se identificando e até se sensibilizando com a necessidade do outro. Jesus não deixou de ser quem Ele era e nem perdeu a essência de sua proposta porque se identificou com o outro, por isso as igrejas devem estar cientes de que ao se preocuparem com a necessidade do outro, elas não perderão as suas identidades.

3)    Disposição para Ajudar

Todas as atitudes de Jesus nos mostram amor e compaixão e é isso que Ele espera de nós quando estamos realizando a sua missão evangelizadora. Esta ação deve ser sempre solidária para com aqueles/as que são golpeados pelas estruturas cruéis e desumanas da nossa sociedade. Deus não está preocupado com as denominações, com as placas das igrejas, mas com a disposição para o serviço, ou seja, para a realização da sua obra.

4)    Vivendo a palavra

Jesus nos ensinou a andarmos segundo a vontade de Deus, isto é, de conformidade com a palavra de Deus. Ele espera que possamos ser exemplos na vivência de sua palavra, para que a missão evangelizadora possa ser eficaz em seus resultados.

3. Base para o Testemunho Cristão

Todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partam pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo”. (At 2. 44-47a)

A vida da Igreja primitiva foi e é para nós um intenso sinal de unidade e solidariedade para o testemunho cristão. A esses irmãos e irmãs não lhes importava despojar-se de seus bens, de tudo o que tinham, tão somente com o propósito de compartilhar e de estar juntos. Eles entenderam a mensagem de Jesus Cristo. E deram testemunho e ganharam a simpatia de todo o povo. (v.47a)

Assim, o compromisso de conscientização social é a base fundamental para o compartilhar solidário com nosso povo. Com ações eficazes dando testemunho ao nosso povo através de experiências especificas em solidariedade. Compartilhar sem nenhuma intenção ou desejo pessoal de denominação, de seita religiosa, de ideologia ou de interesse material. Ser solidário com atitudes concretas e reais. Estes são fundamentos primordiais para uma caminhada de união e solidariedade para um testemunho cristão. Pois compartilhar significa não fazer distinção entre as pessoas, tanto no terreno econômico, no político ou, ainda mesmo, no religioso. Compartilhar com fé, oração, inteligência, mas em comunidade, sem qualquer distinção.

3.1. Solidariedade: Essência do Evangelho

Falar de solidariedade é apontar para a própria essência do Evangelho. Podemos perceber que o Cristo está totalmente identificado com o fraco, com as mulheres tristes e abandonadas, com as crianças desamparadas da sociedade, com os presos, os enfermos, com os que estão carregados de dor e cansados de viver uma existência sem vida. E Ele se une a esse povo sofredor, junta-se a ele com os braços abertos chama insistentemente: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt. 11.28).

Como Igreja de Cristo, precisamos desta mesma compaixão e essa mesma ternura. Esta foi uma das primeiras características que se notam, de forma palpável na experiência da igreja primitiva é que, como costume cotidiano, estavam juntos, tinham tornado realidade o processo da unidade. É necessário agora fazer cumprir o texto de João 17.21 “como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”.

3.2. Esperança Solidária

Qual é, e qual deve ser a esperança solidária da Igreja Hoje para com a sociedade? A resposta está em Efésio 5.1: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”. É a Jesus que devemos imitar e seu ministério foi bem claro em três aspectos:

a)      Jesus deu boas notícias aos pobres e proclamou liberdade aos cativos (Lc. 4.18-18). A Igreja não deve recusar esse desafio, pois estaria negando esperança solidariedade ao povo;

b)     Jesus compreendia a necessidade de fazer obras de saúde e atender às necessidades do povo, ele mesmo disse: “Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc. 10.45). A Igreja deve solidarizar-se com as necessidades do povo, pois está posta para servir, consolar e trazer a esperança de vida que há em Jesus;

c)      Jesus não só prega e cura, mas é também companheiro que participa das preocupações de seu povo, de suas dores e alegrias (João 11.33-36). A Igreja, como corpo de Cristo, deve sentir e andar como seu senhor andou e aqui, no contexto que nos compete servir, devemos projetar nesse povo o calor, a luz, o companheirismo.

Não existe verdadeira solidariedade se o sacrifício não estiver no meio. Se a proclamação do Evangelho se faz nesta perspectiva de unidade estaremos trazendo esperança solidária para todo o povo.


Bibliografia

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[1] David Fischer. O Pastor do Século 21. P. 137.

[2] Gérson Meyer. Colheita de Esperança, V. 2, p. 64.

Um comentário:

  1. Vivemos em um tempo onde as pessoas não querem compromisso com a vida cristã, não querem mudar atitudes, apenas querem benefícios. Não querem ser pastorado.Tem dificuldades extremas em compreender que precisam cumprir princípios. Querem a glória sem sacrifício, sem renúncia. Tempos difíceis pra liderança cristã..

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